segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O dom da cara de pau

Todo ser humano nasce com um dom que lhe é inato. Uns têm o talento de realizar coisas mirabolantes com uma esfera chamada bola de futebol que, com muito treino, fazer com ela coisas que parecem impossíveis. Outros têm o dom de administrar bem as coisas e tratar de uma organização pequena que, sendo bem trabalhada, fazem crescê-la a ponto de torná-la uma grande potência. Sempre ouve-se falar que cada um tem o dom. Até mesmo para que sirva de consolo àquele elemento que veio ao mundo cuspido, sem eira nem beira. Só que até o bebê que veio ao mundo bastardo e abandonado pela mãe tinha um dom, vivia eu a me perguntar o porquê eu não ter descoberto o meu ainda...

Desde moleque eu batia bola com os amigos e sempre fui o pior da galera. Ficava extremamente feliz quando tinha outro caneludo, pois me sentia como não sendo o pior do baba e pra não ficar sempre por baixo (sem duplo sentido, por favor!), jogava sempre fazendo algazarras que servia para descontrair o outro time, enquanto inchava de raiva meus companheiros, que sempre me expulsavam da equipe. Tentei partir para a música, mas canto ruim feito a peste que até a água do chuveiro pára de cair por não me suportar e, diferente do Felipe Dylon, tomei vergonha na cara e abandonei a música. Vivia procurando um dom em mim, um reles estudante que almeja galgar alguma arte já que não presto pra quase nada, até que descobrir uma coisa que não era comum a quase ninguém. Uma coisa que é quase única e raríssimas pessoas possuem: O DOM DA CARA DE PAU!

Certos indivíduos proferem esta expressão a um sujeito com o intuito pejorativo, mas para quem se qualifica nesse padrão, tal verbete soa como um elogio sem igual. Denomina-se cara de pau aquele indivíduo abelhudo, que realiza tarefas que não é de sua conta, aquele que tem o dom de penetrar nos lugares sem ser convidado, aquele cidadão que não tem o mínimo pudor de exalar o perfume do óleo de peroba por onde quer que transite.

Quando moleque, eu era muito reprimido pelos meus pais que diziam que eu deveria ser do tipo certinho, apenas entrar nos lugares que eu fosse convidado e não dizer o que não deve em momentos importunos, não sabendo eles que estavam me privando de desenvolver o mais nobre dos dons. Aos 12 anos de idade, penetrei na primeira festa como intruso. Uma festa de 15 anos de uma amiga de um conhecido meu. Colei com a figura e entrei na maior cara de madeira. Percebi que sendo intruso eu tiro muito mais proveito de situações.

Porém, todas as funções têm as suas vantagens e os seus ônus e com o cara de pau não é diferente. Mas para quem ostenta esse título com honra nunca desanima e nunca fica por baixo em situações constrangedoras. Descobre-se aí a regra número um da cartilha de todo cara de pau: NUNCA TER VERGONHA! Todo cara de pau deve, sim, ser um cara sem vergonha (não necessariamente com hífem). Toda festa que você penetra tem um invejoso que diz em alto e bom som: “fulano, você é mesmo intruso, heim?!”, não sabendo ele que mais do que o prazer em comer de graça e zuar com os engomadinhos da festa, é que você, trajado de calça jeans e All Star na festa de 15 anos, goza como ninguém do prazer de penetrar no espaço sem o convite da debutante. O melhor de tudo é que no final da festa você se torna amigo da aniversariante, vira o centro das atenções da festa e de quebra conhece todas as gatas que dançaram a valsa com os manés que passaram dias e mais dias ensaiando aquela dancinha patética.

Sem mais delongas, concluo que ser cara de pau não é para quem pode. Não para quem quer. É para quem teve o mérito de nascer com a mais nobre das qualidades. Mulheres se espantam com o grau da sua abelhulidade. Homens se mijam de rir com o seu dom intrujão. Nada é páreo para quem é hábil suficiente para se esquivar de uma situação que queira te deixar por baixo!

Um cara de pau autêntico nunca fica por baixo, não importa a situação. Mesmo que o cara de cima seja um negão forte, de 1,90m...



por Diego “Fininho” Barreto

0 COMENTÁRIOS: